A crise ambiental
A crise socioambiental, em suas diferentes formas de expressão, seja em nível global, ou local tem suas origens no processo de desenvolvimento da sociedade moderna bem como no crescimento elevado da população, na distribuição desigual das riquezas e na dicotomização homem/natureza.
Alterações ambientais de raízes antrópicas não constituem novidade na história humana, pois elas ocorreram em vários pontos do planeta em distintas épocas. Muitas dessas crises ambientais se deram na China antiga, na ilha de Páscoa e nas civilizações maia, índica e grega.
Tivemos igualmente grandes crises planetárias que abalaram profundamente a vida e provocaram extinções maciças de espécies muito antes dos hominídeos e o Homo sapiens sapiens se constituírem como família e espécie, respectivamente. Essas crises, de duração, profundidade e extensão bem mais acentuadas que a atual, foram provocadas não por ação do ser humano, que só apareceria na face do planeta Terra milhões de anos mais tarde, mas por fenômenos astronômicos, climáticos e geológicos.
Entretanto, a presente crise ambiental, quando comparada a todas as outras crises planetárias não antrópicas e crises antrópicas não planetárias revela particular singularidade. É a primeira vez nos 4.5000.0000 anos de existência do nosso planeta, que temos uma crise ambiental global oriunda de atividades exercidas pelo ser humano.
Origem da crise ambiental
Essa crise não surgiu do vácuo, mas de uma conjuntura socioeconômica, política, histórica e cultural. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que as causas da crise socioambiental contemporânea está radicada na concepção equivocada de que desenvolvimento é sinônimo progresso, modernização e crescimento econômico. O autêntico desenvolvimento não se restringe unicamente a sua dimensão econômica, mas igualmente a científica, tecnológica, social, política, cultural e espiritual.
Permeando a visão equivocada do que venha a ser desenvolvimento, está o paradigma cartesiano simplificador. O paradigma cartesiano moderno surgiu e floresceu sob ao respaldo do filósofo francês René Descartes que concebia o mundo como uma máquina constituída de diferentes engrenagens e peças distintas. Dentro dessa ótica Descartes, propunha a ideia de que o pensamento e os problemas deveriam ser desmembrados em suias partes constituintes e dispostos em uma ordem lógica.
Logo, o pensamento cartesiano acreditava que somente a simplificação das questões permitiria que as respostas se tornassem perceptíveis e que unicamente a partir da dominação e da transformação do mundo é que se poderia conhecer o real e manipulá-lo pela técnica. Este paradigma alicerçou-se na racionalidade, na quantificação, no dualismo entre corpo e mente, no culto exagerado da teoria em prejuízo da prática e do intelecto em detrimento da emoção, do coração e do espírito. Essa perspectiva filosófica inaugurou uma visão antropocêntrica que incutiu na psiquê humana a ideia de que o espírito da ciência era serví-lo, proporcionando instrumentos que lhe possibilitassem mostrar um domínio cada vez maior domínio sobre a natureza, o que provocou graves equívocos cujos resultados sentimos ainda hoje, que é a crise ambiental contemporânea em suas múltiplas dimensões.
O paradigma cartesiano simplificador muito contribui para o progresso do mundo, todavia na atual conjuntura de crise ambiental, seus fundamentos - dualismo, reducionismo e mecanicismo - , já não conseguem por si só, dar conta das demandas desta sociedade-mundo. O futuro se transformou num todo imprevisível, as verdades tornaram-se transitórias e o conhecimento científico moderno há muito deixou de ser considerado a única forma válida de conhecer o mundo, o homem e a sociedade. Em resposta a este mal-estar, novas concepções tem surgido a partir dos avanços da cibernética e das últimas descobertas da física quântica, das ciências sociais, da biologia e da sociologia, reconfigurando o mundo num todo. Dessa reconfiguração, uma nova estrutura de pensamento vem sendo construída, permitindo a superação do reducionismo, cuja tendência é reduzir tudo às partes. Esse novo paradigma tem sido denominado de teoria da complexidade ou pensamento complexo.
Aventurando por novos mares
A teoria da complexidade tem sido apontada como a maneira mais adequada para se lidar com as transformações profundas pelas quais vem passando nossa humanidade. Muitas dessas metamorfoses socioambientais tem acontecido em consequência da presença simultânea de inúmeros desafios científicos, tecnológicos, econômicos, políticos, sociais, culturais, ecológicos e espirituais.
A razão complexa rompe com a fragmentação e a simplificação do conhecimento, rejeita a linearidade dos fenômenos que acontecem no âmbito do mundo natural e humano.
Busca a formação de uma civilização de alcance planetário mediante o diálogo intercultural, a alteridade e a sinergia. Supõe uma compreensão do mundo de uma maneira global e sistêmica, ecológica e holística, de modo a facultar o desenvolvimento de um olhar mais sensível e totalizante do objeto de estudo. A complexidade nos revela que a ideia de um universo fechado, linear e eterno necessita ser deixada para trás e que é urgente que nos aventuremos em novos territórios de conhecimento e significações. O pensamento complexo procura dialogar integrativamente com ordem e desordem imanente no mundo.
Edgar Morin, antropólogo, sociólogo e filósofo francês, defende esse pensamento como um modo de repensar a realidade, a educação e a relação homem/natureza. O pensamento complexo é uma maneira de ultrapassar o pensamento cartesiano, que leva ao desmembramento do conhecimento, a dicotomização ambiente antrópico e natural e a simplificação da complexidade do real.
De maneira resumida, poder-se-ia afirmar que a teoria do pensamento complexo é uma importante bússola teórico-conceitual e metodológica, para todos aqueles que desejam se aventurar seguramente no oceano encapelado da problemática ambiental.
Palavras-chave: Crise ambiental; Paradigma cartesiano; Pensamento complexo
Edgar Morin, pseudônimo de Edgar Nahoum, é um antropólogo, sociólogo e filósofo francês judeu de origem sefardita. Pesquisador emérito do CNRS. Formado em Direito, História e Geografia, realizou estudos em Filosofia, Sociologia e Epistemologia
A crise socioambiental, em suas diferentes formas de expressão, seja em nível global, ou local tem suas origens no processo de desenvolvimento da sociedade moderna bem como no crescimento elevado da população, na distribuição desigual das riquezas e na dicotomização homem/natureza.
Alterações ambientais de raízes antrópicas não constituem novidade na história humana, pois elas ocorreram em vários pontos do planeta em distintas épocas. Muitas dessas crises ambientais se deram na China antiga, na ilha de Páscoa e nas civilizações maia, índica e grega.
Tivemos igualmente grandes crises planetárias que abalaram profundamente a vida e provocaram extinções maciças de espécies muito antes dos hominídeos e o Homo sapiens sapiens se constituírem como família e espécie, respectivamente. Essas crises, de duração, profundidade e extensão bem mais acentuadas que a atual, foram provocadas não por ação do ser humano, que só apareceria na face do planeta Terra milhões de anos mais tarde, mas por fenômenos astronômicos, climáticos e geológicos.
Entretanto, a presente crise ambiental, quando comparada a todas as outras crises planetárias não antrópicas e crises antrópicas não planetárias revela particular singularidade. É a primeira vez nos 4.5000.0000 anos de existência do nosso planeta, que temos uma crise ambiental global oriunda de atividades exercidas pelo ser humano.
Origem da crise ambiental
Essa crise não surgiu do vácuo, mas de uma conjuntura socioeconômica, política, histórica e cultural. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que as causas da crise socioambiental contemporânea está radicada na concepção equivocada de que desenvolvimento é sinônimo progresso, modernização e crescimento econômico. O autêntico desenvolvimento não se restringe unicamente a sua dimensão econômica, mas igualmente a científica, tecnológica, social, política, cultural e espiritual.
Permeando a visão equivocada do que venha a ser desenvolvimento, está o paradigma cartesiano simplificador. O paradigma cartesiano moderno surgiu e floresceu sob ao respaldo do filósofo francês René Descartes que concebia o mundo como uma máquina constituída de diferentes engrenagens e peças distintas. Dentro dessa ótica Descartes, propunha a ideia de que o pensamento e os problemas deveriam ser desmembrados em suias partes constituintes e dispostos em uma ordem lógica.
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https://www.infoescola.com /filosofos/rene-descartes/ |
O paradigma cartesiano simplificador muito contribui para o progresso do mundo, todavia na atual conjuntura de crise ambiental, seus fundamentos - dualismo, reducionismo e mecanicismo - , já não conseguem por si só, dar conta das demandas desta sociedade-mundo. O futuro se transformou num todo imprevisível, as verdades tornaram-se transitórias e o conhecimento científico moderno há muito deixou de ser considerado a única forma válida de conhecer o mundo, o homem e a sociedade. Em resposta a este mal-estar, novas concepções tem surgido a partir dos avanços da cibernética e das últimas descobertas da física quântica, das ciências sociais, da biologia e da sociologia, reconfigurando o mundo num todo. Dessa reconfiguração, uma nova estrutura de pensamento vem sendo construída, permitindo a superação do reducionismo, cuja tendência é reduzir tudo às partes. Esse novo paradigma tem sido denominado de teoria da complexidade ou pensamento complexo.
Aventurando por novos mares
A teoria da complexidade tem sido apontada como a maneira mais adequada para se lidar com as transformações profundas pelas quais vem passando nossa humanidade. Muitas dessas metamorfoses socioambientais tem acontecido em consequência da presença simultânea de inúmeros desafios científicos, tecnológicos, econômicos, políticos, sociais, culturais, ecológicos e espirituais.
A razão complexa rompe com a fragmentação e a simplificação do conhecimento, rejeita a linearidade dos fenômenos que acontecem no âmbito do mundo natural e humano.
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Edgar Morin, antropólogo, sociólogo e filósofo francês, defende esse pensamento como um modo de repensar a realidade, a educação e a relação homem/natureza. O pensamento complexo é uma maneira de ultrapassar o pensamento cartesiano, que leva ao desmembramento do conhecimento, a dicotomização ambiente antrópico e natural e a simplificação da complexidade do real.
De maneira resumida, poder-se-ia afirmar que a teoria do pensamento complexo é uma importante bússola teórico-conceitual e metodológica, para todos aqueles que desejam se aventurar seguramente no oceano encapelado da problemática ambiental.
Palavras-chave: Crise ambiental; Paradigma cartesiano; Pensamento complexo
Edgar Morin, pseudônimo de Edgar Nahoum, é um antropólogo, sociólogo e filósofo francês judeu de origem sefardita. Pesquisador emérito do CNRS. Formado em Direito, História e Geografia, realizou estudos em Filosofia, Sociologia e Epistemologia
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