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terça-feira, 13 de junho de 2017

Minicurso de Ilustração Científica

Alunos e alunas integrantes do clube de Estudos Ambientais (CEA) do Colégio Militar de Brasília participaram, no dia 31 de maio de 2017, de um Minicurso de Ilustração Científica. O evento ocorreu por iniciativa do Professor Fernando Lopes, da disciplina de Artes do 3º ano do Ensino Médio. O curso foi ministrado pelo Prof. Dr. Marcos Ferraz, Biólogo do Núcleo de Ilustração Científica da Universidade de Brasília (NICBio).

Prof. Dr Marcos Ferraz (UnB) e professor Fernando Lopes com os alunos do CEA

Na ocasião, os alunos aprenderam técnicas iniciais de representação de material biológico utilizando modelos do acervo do Laboratório de Biologia do CMB. Também, aprenderam a confeccionar um caderno para anotações de campo e conheceram ilustrações em nanquim e aquarela para divulgação no meio científico. 
Prática do minicurso de Ilustração Científica no Laboratório de Biologia sob a supervisão do Major Fraga e Prof  Marcos

Na segunda parte do Curso, os alunos visitarão o Parque das Sucupiras, Parque Urbano do Distrito Federal, visando à observação de material biológico de espécies nativas do Cerrado para sua posterior ilustração. Os trabalhos desenvolvidos nessa oficina serão apresentados em Exposição Conjunta do Núcleo de Artes do Colégio Militar de Brasília e do Clube de Estudos Ambientais.

Arte e ciência
O conhecimento pode ser comparado a uma árvore com infinitos ramos e folhas. É impossível ao ser humano abarcar toda a realidade fenomênica em sua plenitude. Seria como desejar que uma molécula de água descrevesse a magnificência do oceano. A mente humana quando comparada ao Sol da Mente Cósmica não passa de uma insignificante e pálida centelha. 
Daí o imperativo de recortar, fragmentar, compartimentar, fracionar e pulverizar a realidade sensível ou intangível para que possamos compreendê-la com mais acerto e substancialidade. O único cuidado que devemos ter nesse recortar do mundo, é o fato de não se perder no labirinto da hiper especialização e perder o visão do todo e a perspectiva orgânica.
Nessa atividade interdisciplinar de "Ilustração Científica", foi possível mostrar aos alunos que a Arte e a Ciência não constituem saberes dicotômicos, excludentes. É possível sim, que é possível integrar razão com emoção, cérebro e coração, objetividade e subjetividade, ciência e arte, pesquisa e sensibilidade.
Concordamos com o pensamento de Massarani e Moreira (2006), quando afirmam que:

"tanto a ciência quanto a arte se "nutrem-se do mesmo húmus, a curiosidade humana, a criatividade, o desejo de experimentar. Ambas são condicionadas por sua história e seu contexto. Ambas estão imersas na cultura, mas imaginam e agem sobre o mundo com olhares, objetivos e meios diversos. O fazer artístico e o científico constituem duas faces da ação e do pensamento humanos, faces complementares mas mediadas por tensões e descompassos, que podem gerar o novo, o aprimoramento mútuo e afirmação humanística."
 
https://br.pinterest.com/pin/476114991839958406/


Em substância, essa experiência pedagógica de "Ilustração Científica" foi significativamente fecunda, pois oportunizou aos discente do Clube de estudos Ambientais uma visão de que sustentabilidade em seu aspecto mais amplo, não pode se eximir de uma dialogia interdisciplinar entre a arte e a ciência. E nesse particular vale a pena relembrar a figura mítica e extraordinária do polímato  Leonardo da Vinci. Esse notável homem renascentista soube integralizar magistralmente, ciência e arte, religião e espiritualidade. 

REFERÊNCIAS
Massarani, L. e Moreira, I.C. Por que um diálogo entre ciência e arte? História, Ciência, Saúde. Manguinhos, Rio de Janeiro,2006.
Lanni, O. Variações sobre arte e ciência. Tempo social - USP, 2004.
Ferreira, F.R. Ciência e arte: investigações sobre identidades, diferenças e diálogos. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 36, n.1, p. 261-280, jan./abr.2010.  

terça-feira, 6 de junho de 2017

Espiritualidade Indígena

No dia 24 de maio de 2017 o Clube de Estudos Ambientais do Colégio Militar de Brasília - CEA/CMB, empreendeu uma atividade pedagógica de educação ambiental centrada na sustentabilidade cultural. 

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Até pouco tempo, os pilares da sustentabilidade eram tão somente o econômico, ecológico e o social. Entretanto, um novo pilar vem sendo adicionado ao ideário da sustentabilidade socioambiental: a cultura.
Neste encontro foi trabalhado pedagogicamente a diversidade cultural, que é em substância uma faceta da sustentabilidade cultural. Mas o que significa o termo diversidade cultural? Objetivamente falando, pode ser traduzido como sendo à existência de uma grande variedade de culturas antrópicas. Há inúmeros tipos de manifestações culturais que enaltecem essa variedade. Dentre elas poder-se-ia citar a linguagem, as danças, o vestuário, a religião e outras tradições que concorrem para a organização da sociedade.

Manifestações culturais indígenas
O contato do branco, desde o início da colonização, na maioria das vezes foi prejudicial ao índio e à cultura indígena em geral. A relação ecológica que o homem "civilizado" vem estabelecendo com os povos indígenas tem sido assinalada pela arbitrariedade, desrespeito, cupidez e orgulho.  Muitas etnias indígenas foram despossuídas de suas terras e vilipendiadas em suas crenças, valores e tradições culturais.
https://www.todamateria.com.br/descobrimento-do-brasil/

Nesse nosso encontro das "Quartas Sustentáveis", procuramos estudar e refletir com os alunos a questão da espiritualidade dos povos indígenas e sua relação com a sustentabilidade socioambiental.
O tema gerador de nossa ação docente foi a leitura de uma artigo científico que tematizava sob a ótica antropológica e sociológica "Xamanismos: algumas abordagens teóricas", do pesquisador Arneide Cemim. O texto permitiu que os alunos resignificassem suas crenças preconceituosas em relação a espiritualidade dos povos indígenas.  Crenças essas oriundas de uma visão de mundo plasmada por um ensino acadêmico ainda formatado no paradigma eurocêntrico e no dogmatismo cristão. 
Em um momento de nossa reflexão coletiva um aluno tomou a palavra e disse: 

 - "Eu pensava que o xamanismo era pura feitiçaria..." 

Nessa simples fala é possível depreender o quanto a mesma está impregnada de preconceito e desinformação. Mostramos a esse jovem que existe no mundo muito prejulgamento e pouco conhecimento daquilo que se critica. Daí a importância de questionarmos e reavaliarmos sempre as crenças que nos são impostas pelo meio cultural no qual estamos inseridos. Caso contrário, teremos uma forma de pensar, sentir e agir intolerantes. E onde inexiste um esforço de conhecer e compreender o diferente, irrompe sempre o sectarismo e as conflituosidades em seus mais variados matizes. 

Uma outra aluna afirmou: 

- " Pelo que eu percebi em nossa leitura, o xamanismo apregoa a mesma coisa que a minha religião: fazer o bem, ser honesto, respeitar o próximo e a natureza."

A nossa discente tem razão em sua fala, pois se estudarmos a essência doutrinária do cristianismo, do budismo, islamismo, taoísmo e judaísmo, constataremos que a espiritualidade indígena acredita numa Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas (Grande Espírito), na importância da vivência da fraternidade em nossas relações interpessoais e no cuidado afetuoso e respeitoso da natureza. 
O xamanismo, isto é a espiritualidade indígena, nos lembra invariavelmente que "a terra não pertence ao homem: é o homem que pertence à terra (...) todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride à terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará."

 
https://www.museudoindio.org.br

Após a leitura, as reflexões nos reunimos em círculo com o propósito de simbolizar que nós os seres humanos somos os meio ambiente e que estamos indissoluvelmente ligados a teia da vida e  a todos os elementos da natureza. 

Considerações finais
Essa aula de educação ambiental ao ar livre (Bosque das Forças Armadas) foi muito significativa para todos os alunos. Todos os presentes ignoravam que os indígenas possuíam um sistema de crenças tão rico de espiritualidade e sabedoria. E natural, naturalíssima essa perplexidade por parte dos discentes, porquanto todos eles e e igualmente nós, fomos aculturados numa cosmovisão centrada no eixo axiomático europeu e cristão. Em outras palavras, fomos doutrinados, condicionados culturalmente a contemplar o índio como um ser humano selvagem, bruto, cruel e preguiçoso. Crescemos com essa percepção extremamente preconceituosa e excludente. 
No entanto, após refletirmos acerca da espiritualidade indígena pudemos contatar que os alunos haviam mudado sua percepção negativa em relação aos povos indígenas. Acreditamos ter atingido em parte nosso objetivo pedagógico, que foi mostrar aos discentes que a construção de sociedades sustentáveis e sustentadas perpassa indubitavelmente pela disposição para admitir modos de pensar, de agir e de sentir diferentes dos nossos. Em parte porque o processo de desenvolvimento de uma mentalidade mais inclusiva, universalista e humanista demanda um ensino que transcenda as fronteiras aprendizagem meramente racional, instrumental e utilitarista.

Referências
CEMIM, Areneide. Xamanismo: algumas abordagens teóricas. Revista de educação, cultura e meio ambiente. Março, nº 15, Vol III, 1999.
http://www.progresso.com.br/opiniao/wilson-matos/diversidade-cultural-dos-povos-indigenas
http://www.xamanismo.com.br/o-que-e-xamanismo/