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domingo, 10 de novembro de 2019

O PETRÓLEO NA COSTA NORDESTINA BRASILEIRA


     No dia 05 de novembro de 2019, o Clube de Estudos Ambientais (CEA) realizou um debate sobre a contaminação do litoral nordestino por petróleo. Desde o final do mês de agosto, manchas de óleo atingem praias, estuários e mangues na costa nordestina. As primeiras manchas apareceram em dez praias do estado da Paraíba. No dia 02 de setembro, o petróleo já atingia localidades em Pernambuco e Sergipe.



      Mancha de petróleo em praia nordestina 



     Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), no início de novembro, 409 localidades de 104 municípios, em todos os nove estados nordestinos, haviam sido afetados pelo petróleo. Impactos na pesca e no turismo já são sentidos em todo o Nordeste. Em extensão, a contaminação por petróleo na costa nordestina constitui o maior desastre ambiental litorâneo da história do país.   



Características do óleo poluente

     O petróleo que atinge as praias nordestinas constitui um "óleo cru" (sem processamento) composto de hidrocarbonetos e outros produtos orgânicos altamente tóxicos (benzeno, tolueno, xileno, etc). O óleo apresenta alta densidade sendo transportado pelas correntes marítimas abaixo da superfície da água do mar. Assim, as manchas emergem já muito próximas da linha da costa, dificultando ações de limpeza e contenção. 


     Mancha de petróleo emergindo nas piscinas naturais de Maragogi (AL) 


     O óleo também apresenta alta viscosidade, aderindo à areia da praia, à vegetação dos mangues e aos recifes de corais. Essa característica dificulta sua remoção e potencializa seu tempo de permanência nos ambientes afetados.  


Alta viscosidade do óleo poluente. Acima: luva de voluntário impregnada de óleo. 
Abaixo: manchas de óleo na areia da praia 



     Os hidrocarbonetos constituintes do petróleo se manterão íntegros por muito tempo. Assim, sua degradação natural (resultante da rebentação das ondas, da irradiação solar, da ação de bactérias, etc) será muito lenta. Em áreas onde ocorreram outros derramamentos de petróleo, análises realizadas anos depois ainda apontavam alta toxidade. Partículas microscópicas de óleo, diluídas na água ou presentes na areia e na vegetação, podem ser inaladas ou absorvidas pelas plantas e animais permanecendo na cadeia alimentar marinha. Portanto, também no Nordeste brasileiro, a contaminação química estará presente muito tempo depois da degradação dos vestígios do petróleo.


Efeitos do poluente nos ecossistemas

     Os principais ecossistemas costeiros são formados por praias arenosas (formações de restingas, dunas, etc), estuários (ambiente de transição entre os rios e o mar), deltas (lugar onde um rio deságua), manguezais (terreno alagadiço à beira do mar ou rio), recifes de coral, etc. 
      Vários são os efeitos do óleo poluente nos ecossistemas costeiros. Também, é possível afirmar que esses efeitos estarão presentes nesses ecossistemas por décadas.    


a) Praias arenosas

     Ao atingir a orla das praias, o petróleo cru se adere à areia, aos costões rochosos e aos sedimentos. A areia impregnada de óleo fica viscosa e enegrecida. Com o passar dos dias, o óleo se mistura ainda mais com os sedimentos e as rochas. Espécies animais e vegetais que habitam águas rasas e praias são afetadas. Plânctons, bactérias e fungos são rapidamente contaminados. Peixes, mariscos, ostras, siris e caranguejos, que filtram a água e se alimentam nesses ambientes, acabam afetados ou mortos.
     Animais migratórios ou que transitam entre o mar e a praia também são contaminados. Diversas tartarugas marinhas da espécie Lepidochelys olivacea (tartaruga-oliva) foram encontradas mortas ou extremamente debilitadas. Os animais resgatados apresentavam presença de óleo nas mucosas e nas cavidades nasais, orais e nos olhos.     

 
Biólogo tenta recuperar tartaruga-oliva contaminada pelo petróleo  


      Aves migratórias, que utilizam temporariamente o litoral nordestino, também foram afetadas pelo óleo. O Puffinus puffinus (furabucho) é uma ave conhecida pela longa migração. Um furabucho foi resgatado na Praia de Cumbuco, em Caucaia (CE), mas não resistiu. 

b) Manguezais 

     Os manguezais são ecossistemas de transição entre a terra e o mar presentes em regiões tropicais e subtropicais. Peixes, camarões, moluscos, caranguejos e outros animais habitam os manguezais. Esses ecossistemas realizam uma série de serviços ambientais, tais como retenção de sedimentos, filtragem biológica, prevenção da erosão e combate ao aquecimento global. Além disso, os manguezais representam um verdadeiro "berçário natural" para 70% a 80% das espécies marinhas de importância econômica.  



Petróleo em manguezal na praia de Tamandaré (PE)



     Ao chegar aos manguezais, o petróleo recobre as raízes e o caule das plantas, além dos animais que ali vivem. As plantas atingidas podem sofrer com a hipóxia (falta de oxigênio) e com o calor (diminuição da transpiração). Uma vez cobertas, as plantas podem deixar de realizar a fotossíntese e morrer. Já os animais, ao entrarem em contato com o óleo ou com as partículas dissolvidas, podem apresentar deformação de tecidos, órgãos e morte.   

c) Recifes de corais   

     Os recifes de corais são importantes pois uma em cada quatro espécies marinhas utiliza-os como locais de refúgio, alimentação e reprodução. Os recifes também absorvem gás carbônico (CO2) fixando-o em sua estrutura física e contribuindo para a diminuição do aquecimento global.  


Recifes de corais sustentam a biodiversidade marinha e evitam o aquecimento global


     O petróleo está chegando aos corais nordestinos principalmente pelo efeito da degradação. À medida que o óleo é degradado, ele se sedimenta e atinge seres fixos como as esponjas-do-mar e os corais. Os cnidários (animais que formam os recifes de corais) podem ser afetados pelo óleo principalmente na fase de pólipo (fase fixa).    
     Nos corais, a contaminação da microfauna (plânctons, ovos e larvas) pode resultar na acumulação dos poluentes na cadeia alimentar marinha. Assim, ocorre um fenômeno conhecido como Biomagnificação Trófica, representado pelo acúmulo progressivo de substâncias de um nível trófico para o outro. As partículas contaminantes vão apresentar maior concentração nos indivíduos que ocupam níveis tróficos mais distantes dos produtores. 

Considerações Finais

    Com o debate, os alunos do CEA conheceram um pouco mais sobre o desastre ambiental no litoral do Nordeste brasileiro e suas consequências. Além dos efeitos biológicos, os alunos apontaram as implicações para o turismo e o comércio da região. Também, refletiram sobre possíveis ações, aplicáveis no dia a dia, para diminuir nossa dependência dos derivados do petróleo.    


Fontes de Consulta 

https://istoe.com.br/oleo-no-nordeste-chega-a-409-numero-de-localidades-afetadas/
https://www.greenpeace.org/brasil/blog/como-o-petroleo-impacta-os-recifes-de-corais/
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50131560
https://oimparcial.com.br/cidades/2019/10/sobe-para-132-o-numero-de-praias-atingidas-por-manchas-de-oleo-no-pais/
https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,oleo-afeta-mercado-de-pescado-e-estudo-da-ufba-alerta-sobre-contaminacao,70003061252
https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2019/10/06/animais-marinhos-agonizam-com-contaminacao-de-oleo-no-litoral-do-nordeste.htm
https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/09/26/manchas-de-oleo-nas-praias-do-nordeste-ja-atingem-99-locais-ibama-diz-que-elas-tem-a-mesma-origem-e-nao-sao-do-brasil.ghtml
http://www.observatoriodoclima.eco.br/peixes-de-corais-sofrem-de-sindrome-de-dory/
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50132770